Friday 9 October 2009

Lição III - Atomic Power: Gojira e Astro Boy

O tufão pode ter sido meio fraquinho mas foi o suficiente para as aulas (e o respectivo teste) terem sido canceladas da parte da manhã. E - uff - não da parte da tarde, o que quer dizer que a terceira aula de anime se expunha perante mim. Nesta aula avançamos para o verdadeiro inicio do anime como o conhecemos hoje e, numa analise social do Japão pós-guerra soltamos entre nós as parecenças, semelhanças e porquês sociais de dois fenómenos japoneses da segunda metade deste século: o Godzilla e o Astro Boy.
Pode-nos não ser assim tão trivial como isso, em particular por causa da distância e da rara reminiscência sobre o assunto, mas o Japão foi completamente trucidado na segunda grande guerra. Bombardeamentos impiedosos (e, há quem possa dizer, merecidos) dos Americanos, como por exemplo, os inúmeros ataque de B-29 em Tokyo e as duas bombas nucleares tiveram um efeito profundo da mentalidade japonesa. O mais gritante sendo o imperador, que na escola primária era dado como um ser divino e pai da raça japonesa que, portanto, era protegida por Deus, disse, publicamente, que não era um deus: imaginem o efeito de engano, confusão, estupefacção, traição e a crise de identidade colectiva que sai de uma mudança de cento e oitenta graus como essa. Além disso, no fim da guerra, além da crise psicológica havia uma crise material enorme, não havendo absolutamente nada, nem mesmo para comer, tal como o Grave of the Fireflies nos conta.
Um dos grandes impulsionadores da economia da altura foi a indústria de brinquedos, usando os desperdícios do Americanos, conseguiam-se fazer brinquedos para a venda à própria América. O “Made in Ocuppied Japan” é uma tag, naquela altura normal, que muitos coleccionadores gostam de ter nas suas colecções. E, mais uma vez, podemos ter a ideia do efeito que tal marca teve na orgulhosa e, até há bem pouco tempo, especial e protegida por um poder divino, mentalidade japonesa. Alas, não muito tempo depois da guerra, do Japão, sai o filme que mais marca a colectividade japonesa do período pós guerra: o Gojira, por nós reconhecido como Godzilla. Ver um monstro, vítima de um acidente nuclear, por causa de uma guerra que nada lhe diz, perdido no meio do caos civilizacional e de um mundo que não entende, é reminiscente do que muitos japoneses pensavam e, mais importantemente, sentiam, naquela altura. E, do outro lado da moeda, a devastação criada por esta entidade era facilmente parallisada com a devastação, sentida na guerra. Eis o porquê da popularidade de um monstro destrutivo numa civilização destruída: por um lado a sua inocência e génese era facilmente reconhecida nesses tempos de traição; por outro, a devastação criada era, também ela, facilmente reconhecida nas paisagens de fogo, outrora verdejantes, vividas à tão pouco tempo.
Paralelamente ao Gojira, agora no meio da manga e, depois, do anime, vem um ser que vem marcar o anime para sempre: o Astro Boy. Este robot simpático, com a aparência de uma criança, que só quer ajudar e salvar os outros e, numa temática que se tornaria famosa depois da industrialização, ser humano sem nunca o poder; também foi trazido à vida com o poder, visto no Japão como em mais nenhum lado, da energia nuclear. E as semelhanças com o Gojira acabam por ai. Lutando por um mundo em que robots, humanos e animais vivam em harmonia representa o sonho de um Japão forte, industrializado e pacífico que estava na mente de todos os que presenciaram os horrores da guerra e viam que o futuro estava em juntar o que é mecânico ao electrónico. Mais do que isso, este robot, que embora tenha os poderes e a potência que só um robot pode ter, também, tal como o Japão, não tem uma identidade definida, com o seu coração humano e o seu corpo de criança que não pode crescer. Como é que ele resolve este problema? Bem, vós tendes de ler a manga, mas creio que não é difícil de adivinhar :)



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