Tuesday 20 October 2009

Uma casa japonesa

Se bem se lembram, há uns dias foi a um absolutamente fantástico concerto de koto na companhia da há pouco tempo conhecida Rose-san. Hoje, como foi combinado nessa soberba noite fui, juntamente com uma conterrânea e uma brasileira, cozinhar para a família dessa simpática senhora e, ao mesmo tempo, provar um prato das filipinas, a sua terra natal. Chegando à casa dela com o sol a pôr-se, depois ter passado por uma paisagem que não estaria desajustada pelas montanhas de Portugal e depois de termos um acidente com uma bola que veio em direcção ao carro depois de ter saído da mão de uma criança descuidada que, ao se aperceber de tal vicissitude, fugiu rapidamente para o bosque atrás do parque aonde brincava, chegamos à casa aonde o serão (e, para deleite de algumas pessoas, pequenos cães) nos aguardava.
Ao entrar em casa em que, como seria de esperar, sapatos não entram, a família dela recebeu-nos com toda a simpatia. O marido era um japonês nos seus quarenta ou cinquenta anos que, tão diferente do que vemos nos comboios mostrava um espírito não stressado, calmo e até divertido. A sogra, uma mulher muitíssimo idosa e com uma presença surpreendente, com, foi-nos dito, cem anos fez uma breve aparência para, suponho eu, ver o que era o comoção. Os filhos, que foram chegando, mostraram a surpresa própria de crianças adolescentes e os gostos também: ambos eram avidos leitores da shonen jump ^_^ A casa, essa era tudo o que esperaríamos de uma casa japonêsa, além da normalidade e sentimento de proximidade que a arrumação de tudo dava, havia portas de madeira que deslizavam, tatamis no chão, (algumas) paredes de papel branco e até o que seria melhor descrito como um mini templo numa das divisões.


Quê? Isso não é normal nas csas japonêsas! No máximo dos máximos há um altar ~.~ Verdade, verdade. Mas, como viemos a saber, esta casa servia de mini-igreja da religião vigente - Tenrikyou - e, como tal, tinha o espaço religioso devidamente preparado. Três mini-altares, a poesia das músicas nas paredes, as decorações em papel, os tatamis e os instrumentos tornavam aquela sala uma preciosidade numa casa que só por si já é cheia de coisas incomuns par aos meus olhos não habituados. E não pensem que tal divisão era só fogo de vista ~ pouco depois de chegarmos, ainda no inicio da preparação do jantar, tivemos o privilégio de ver umas das cenas mais surrealistas de que tenho memória. Rose-san, juntamente com o marido e os dois filhos vestiram as suas vestes cerimoniais e, de forma tão natural que contado teria tido dificuldades em acreditar, executaram o a vontade e a minúcia de quem o faz muitas vezes, a sua reza diária e, sendo a Tenrikyou, não surpreendentemente, esta foi composta por música, tocada, em instrumentos tradicionais, pelos homens, cantada (talvez seja melhor dizer entoada?) pelo pai e, dançada, da forma que só os Tenrikyou-anos conseguem, fazer pela mãe. A beleza, hipnotismo e atmosfera do local, som, situação took me to places.


* * *


Depois da bela cerimónia slash reza slash performance slash ritual dedicamos os nossos esforços ao jantar. O arroz de polvo é fácil de fazer e, com a ajuda (ou talvez deva dizer "a ajudar" :) das exímias cozinheiras que tinha a meu lado, nada correu mal. Os nossos anfitriões, em particular, o filho mais novo, gostaram do dito arroz e a sopa de cogumelos estranhos com frango e legumes com um travo delicioso a limão estava mais do que boa. Para não variar comi de mais outra vez :s
Foi particularmente engraçado e interessante ver que o marido tratou do polvo com pauzinhos e que, mesmo com o arroz muito mais separado que o arroz japonês, ele conseguia apanhar os bagos sem grande dificuldade ~ it takes a lifetime!

Depois do jantar ou, melhor dizendo, prolongando-se depois do jantar, de uma forma que nada tem haver com o Japão que até ai conhecia - como é grande a diferença entre o público e o privado aqui! - a conversa sobre tudo e nada, diferenças culturais, países distantes (como os nossos) e países estranhos (como este), personalidades, arte, anime, gostos e tudo o mais chegou a hora, impulsionada por um teste num dos dias que seguiam, da despedida.
Numa palavra: absolutamente fantástico.

お世話になりました!!!

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