Friday, 23 October 2009

Lição V - Ranma 1/2

Angst é a palavra inglesa que, quando aplicada à camadas mais jovens reflecte toda a panóplia de sentimentos, revoltas, mudanças, lutas e revelações que a adolescência oferece. E não é por acaso que, numa boa parte dos animes, os heróis ou anti-heróis estejam a passar por essa mesma fase. Toda a gente a tem e, se o angst da personagem for reflectido no angst do espectador isso cria um laço entre os dois que, depois, é usado para cimentar o anime ~ afinal, fantasiar, com jogos, filmes, livros, sonhos, imaginações ou animes, é uma das melhores maneira de combater ou agir contra esse turbilhão interior.

Então, como é que o anime lida com essa transformação? Bem, em muitos casos tornando-a (metaforicamente) muitíssimo patente a nível físico e, depois disso, mostrar como é que a personagem que sofre essa transformação, lida com ela. Na aula vieram à baila três exemplos. Primeiro o Akira, com a sua transformação física e psicológica num ser superior ao que é humano, em particular no fim do filme com toda a visceralidade da metamorfose a passar diante dos nossos olhos. O Tetsuo, o anti-herói, lida com a sua transformação abraçando-a e desfrutando ao máximo dela... até se aperceber que a transformação o está a destruir e, num momento fantástico na psicologia da personagens, com isso, voltar à criança que era e pedir ajuda ao próprio amigo que tinha abandonado. Em terceiro lugar, perdoem-me a troca de ordem, temos o Shinji, na primeira vez que se fala a sério no melhor anime de sempre. Eu não gostei, o exemplo dado na aula não encaixa no anime e não encaixa na psicologia das personagens, como uma verdadeira "transformação". No máximo seria, como diz o Gendo, o início: contar com a transformação do Shinji em LCL, aquando da sua fusão com a mãe, não diz nada (quase nada) sobre a transformação psicológica da personagens e, muito menos, sobre a maneira que ele tem de lidar com ela ~ triste mesmo, nem numa eula sobre anime se dá o devido valor ao Evangelion. Por fim, em segundo lugar, temos a transformação muito mais leve, cómica e de teor sexual: o Ranma 1/2. Neste anime, talvez conhecido por vós, um rapaz (o Ranma lol) fica com corpo de rapariga ou rapaz mediante é molhado por água quente ou fria e, mediante as subsequentes transformações da série, ele lida com isso querendo sempre tentar reverter a mudança. Ao mesmo tempo, a sua escolhida noiva (sim, pois no Japão isso até era bastante normal) é a rapariga mais tomboy, e como tal, quem menos gosta de rapazes, da série, tornando a dicotomia entre os dois, num clima permanentemente cómico e artes marciais, engraçada de analisar como uma metáfora para essa aventura que é a adolescência, a descoberta do nosso (novo) corpo e a descoberta do outro sexo.
Enfim, uma aula engraçada mas em que fica um travo amargo: afinal como é que não se vê que a verdadeira transformação do Shinji está no filme, é ambígua e, mediante o final que se escolhe, altamente interpretável.



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