Tuesday 29 September 2009

Jogos de crianças

Eu, quando me meto em algo gosto de saber os porquês, os ondes, os quandos, os comos e os quems. E, se não os sei tenho uma boa razão para isso, sendo ela, muitas vezes, o reconhecimento de um padrão passado ou algo inerentemente interior. Isto quer dizer que, quando um japonês nos empurra para um pavilhão onde estão um monte de japoneses, chineses e coreanos, de ambos os sexos e com idades entre os vinte e os vinte e seis anos, eu vou querer saber algumas coisas. Infelizmente a barreira comunicacional, mesmo para as minhas acompanhantes era muito grande: mesmo que se saiba japonês, há conceitos que um nativo assume que, muitas vezes, não entra na cabeça de alguém que está aqui à menos de um mês. E, mesmo com as minhas incessantes perguntas, mesmo com algumas traduções, mesmo com as nossas só-que-ver-o-que-é-isto-e-mesmo-assim-nem-disso-tenho-a-certeza, mesmo sabendo que estávamos num pavilhão com umas cinquenta pessoas descalças e que tal podia vir a escalar para algo desagradável, não se conseguiu saber mais nada alem da palavra エベントウ, ou seja “evento”, o que convenhamos, não ajuda assim tanto.

Passado algum tempo em que, em vão, tentamos descortinar o mistério e, não tão em vão, travamos alguns conhecimentos com os presentes – não é surpreendente mas eles parecem tão interessados em nós, como nós por eles, para o bem e para o mal – e uma “apresentação”, à falta de melhor palavra, começou. O basicamente estávamos a assistir eram quatro raparigas e dois rapazes a fazer uma espécie de dança sincronizada, ao som de uma música adequada à tala actividade, que passava por vários tipos de coreografias – referencias a james bond, à kawaii culture e a comboios presentes – ligadas entre si por uma coreografia-refrão. Até ai tudo bem: meninas com tótós a saltar assustam um bocado mas nada que não se aguente. Depois, perante as nossas caras espantadas e mentes brancas, colocando em uso duas bolas cor-de-rosa super leves de dois metros de diâmetro, começaram a explicar um jogo à plateia que, também não o entendeu muito bem, mas com o qual parecia ter mais à vontade do que nós.
O jogo, como depois vim a comprovar era o seguinte. Primeiro faziam-se equipas e, dentro dessas equipas grupos de seis pessoas para jogar. Cada jogo era disputado com três destes grupos ao mesmo tempo e a ideia era fazer, com cinco das seis pessoas um suporte para a gigantesca bola enquanto a sexta gritava セート!(Set!) … OMNIKIN! (que não é mais do que o que estava escrito bolas gigantes) e, depois, gritava-se o nome da equipa que tinha de apanhar a bola e repetir o processo. Caso a bola caísse no chão a equipa perdia um ponto, embora eu não tenha entendido a classificação. Eu, obviamente disse que ficava só a ver e depois de um jogo de jan-ken-pon em que não entendi de perdi ou ganhei, também obviamente, pois os japoneses, aparentemente, têm uma capacidade fantástica de persuasão não-assertiva que ainda vou ter de apreender, fiz parte da primeira equipa de seis no primeiro jogo que se fez. Não vou negar que foi engraçado e, embora tenha tido o odor dos tempos de educação física, foi uma experiência "interessante". ^_^

No entanto, ainda nada sabíamos quem organizou o evento ou porque o organizou, sendo esta última pergunta respondida aquando do segundo jogo em que fiquei no banco (chão, na verdade). E a resposta, e eu cito, é muitíssimo simples: “fazer amigos”. Sim, é verdade: os japoneses, depois de um dia de aulas estafante, pois o “evento” começou por volta das quatro da tarde, vão para um ginásio jogar jogos que lembram a infância que todos já perdemos para “fazer amigos” e conhecer pessoas. Isto deixou-me extraordinariamente apreensivo e dentro dos meus pensamentos e correlações. Eu já tinha ouvido falar na infantilidade da mente e sociedade japonesa, mas isto é um bocadinho mais do que eu estava à espera! No entanto, os resultados são fantásticos e depois do jogo terminar o clima era leve e os conhecimentos eram muitos, mesmo não entendendo quase nada de japonês. Talvez a nossa sociedade obcecada com a responsabilidade e peso da vida adulta possa apreender algo com isto, ou talvez, dentro de cinquenta anos já não haja japoneses que consigam pensar além da idade mental de quinze anos. Seja como for, foi fantástico a descoberta de tal prática e um privilégio experimentar em primeira mão algo de tão íntimo, secreto e, de uma certa maneira, até mágico. Depois de desenvolver esta e aquela conversa e ver esta e aquela situação mais ou menos caricata, fez-se outra coisa, para mim mais do que cru, áspero, chocante, bárbaro e desumano: uma dança de roda em que se simulou a dança apresentada no início. No comments on this are to be made.

Depois, foi toda a gente jantar yakisoba, feita pelos organizadores que, finalmente se conhecem: associação de estudantes, não do departamento, mas de toda a universidade. Comparações com a AAC são ridículas: estes daqui com toda a mentalidade infantil, estão num nível organizacional e proactivo muito mais à frente. Alias, para comprovar esta dicotomia, que ainda não entendo, entre a mente criança-adulta ou adulto-criança, basta ver a conversa que tive com a cozinheira-mor, alguém que cozinha para mais de cinquenta pessoas numa sala com espaço muito limitado e que, depois de falar uns cinco minutos comigo, me pergunta, como se na terceira classe estivessemos, “Vamos ser amigos?”. Zenzen wakaranai… ~
O dia termina comigo a ir buscar as fotos do evento ao computador da associação e a falar com uma rapariga do curso de português que faz parte da organização. O meu japonês era pouco pior que o português dela e, por isso, a conversa não foi muito longe; no entanto, a informação de que tal evento e a respectiva propaganda, se faz todos os dias foi-me transmitida: é mesmo caso para dizer zenzen wakaranai! (não entendo nada!)


1 comment:

  1. infantilidade?
    don't think so :)

    só para notificar, enviei-te ontem um mail.

    *

    Jezebell

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