Monday 14 September 2009

Open Campus

Hoje, no décimo primeiro dia em que estou neste país, foi Open Campus, isto é, dia aberto, na Universidade de Tenri onde em breve vou começar as aulas. E foi surpreendente… Acho que posso admitir, por agora, e se a internet não me falha, que muitas das pessoas que lêem este blog me conhecem e que, se ficaram à minha volta, foi por uma certa proximidade, vamos chamar-lhe, psicológica e que, tal personalidade, se pode exprimir em alguns gostos e que, um desses gostos passíveis de ser partilhado entre nós, é o da cultura japonesa e que uma parte dessa mesma cultura é o anime e que, para quem já entrou nesse mundo e já viu algumas dessas obras, a escola e os seus festivais são um tema, situação, espaço e evento recorrente. Ora tendo estado num desses acontecimentos, posso dizer que a criatividade do anime não é assim tão transcendente aquando do retrato de tal condição.
Primeiro, a simpatia que emana, quase palpável, de toda a gente. Alunos e professores, ajudantes e visitantes são, mais do que prestáveis, proactivamente prestáveis: metem conversa, perguntam coisas, dão portas para estabelecermos os nossos próprios caminhos de conhecimento e, mesmo com a imensa barreira linguística é possível conhecer pessoas excelentes. Como o professor de inglês, com quem obviamente falei a língua da rainha ^^, que vive cá trinta à anos, que não diz mal do professor japonês com quem obviamente tem um antigo e “pequenino” atrito, eu me recomendou esta excelente manga, por razões ficarão mais tarde aparentes, e que ouvia punk rock nos anos oitenta e ouve electrónica, noize e hiphop – Oh! A heresia! – desde há muito. Ou o professor de alemão que teve de mudar a tese de doutoramento dele, feita no Japão, por ser demasiado política e que disse que a vida é para se ir vivendo devagarinho. Ou a professora de espanhol que estava sempre a sorrir. Ou as japonesas que estão a estudar português (do Brazil) e que já lá estiveram a viajar durante um mês. Ou o rapaz de dezoito anos que adora o Brazil, a sua cultura, as suas pessoas e a sua diferença, pela mesma razão cultural e quase magica porque que tanta gente, em Portugal, adora o Japão. Depois, a dinâmica de sala e das próprias pessoas. Toda a gente ajuda de forma automática, toda a gente, sem saber bem o que fazer, faz algo de produtivo que necessita de ser feito. Nunca a metáfora das formigas com a sua auto-organização e colectivismo esteve tão bem como na sociedade japonesa. Finalmente, há uma aura no quase imperceptível ar de dedicação. Dedicação à universidade, ao departamento, aos eventos, ao público, aos outros e a nós mesmos. Essa aura parece que toma conta de nós e nos faz sentir que, ao mesmo tempo que somos uma peça do puzzle somos uma peça que faz falta.

Eu, no puzzle em que me encontrava, encaixei no apoio aos alunos que, saindo da escola, poderiam entrar na universidade para estudar português. As apresentações da sala, onde se encontravam representados quase todos os departamentos de línguas da universidade, numa demonstração do poder da fala e da língua, foram feitas nas línguas originais de cada departamento. Começou o Português, representado pela Arima e por mim. Depois seguiram-se uma panóplia de línguas das quais não se entendeu nada ou, em raros casos, muito pouco: o russo, como uma nuvem de poeira e neve nas palavras e frases; o coreano, como um japonês fora dele mesmo; o chinês, com seus altos e baixos em entoações e harmonias; o tailandês, com palavras vindas da garganta que me pareceram muito indianas; o bahasa indonésio, do qual só me lembro de coisas como patapata; o francês, como nós, “europeus”, o conhecemos; um alemão muito mais suave e feminino ao que estava habituado a ouvir; o espanhol, bem longe da língua de Camões para não haver confusões; e, por fim, a língua mais universal, falada pela pessoa, envergonhada, nervosa e stressada, que a menos sabia na sala, o inglês.
A manha passou suave, com muitas conversas e sem incidentes de maior. Uma curiosidade que vale a pena contar é a imagem das famílias que nos visitaram para ir ver o possível curso das filhas. É estranho (lol redundância) ver que, no Japão, a mulher é que toma o papel principal: fala com quem é preciso falar, diz o que é preciso dizer, pergunta o que acha que tem de perguntar. Ela é quem comanda as filhas, os filhos e o marido que tem um papel quase puramente presencial, pelo menos na situação em que nos encontrávamos.

Finalizando (quase) o evento, durante o almoço, nas cantinas e à borla pela ajuda que demos, houve musica ao vivo dos clubes de koto, e gagaku. E deixem que vos diga que, principalmente gagaku, é mil vezes mais poderoso ouvido ao vivo. É como se pudéssemos mesmo ver os dragões a crispar o céu e os mesmos a caírem sobre a sua existência. Escusado será dizer que é uma musica fabulosa, lindissima e imersiva para se ouvir e horrível para se ouvir durante o almoço numa cantina.


2 comments:

  1. É impressão minha ou os posts estão a aparecer de forma desorganizada? lol

    it seems that you're having a great time ^^
    estou lacónica... depois vingo-me

    mata

    Jezebell

    *

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  2. tanto altruismo e boa vontade, assim devia de ser aqui por estes lados e não só. As boas intensões são meio caminho para o sucesso coi sas. será por isso que a tecnologia não é assim tão importante...

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